Quando eu tinha uns 19 ou 20 anos,
cheguei em casa numa dessas madrugadas de fim de semana.
Talvez eu estivesse até mesmo um pouco embriagado,
mas isso não importa.
Passei pela cozinha, tomei um copo d’água e,
cambaleante de sono, segui para o meu quarto.
Eram 2, talvez 3 horas da manhã.
Ao passar pelo quartinho do corredor,
naquela penumbra iluminada por um abajur
(que na verdade era um grande aquário),
lá estava ela em pé, sozinha em seu bercinho:
a “Bizinha” — minha sobrinha com uns 2 aninhos, no máximo.
De olhinhos arregalados, ela chorava baixinho.
Todos estavam dormindo,
e só ela havia acordado no meio da noite
sem que ninguém percebesse.
Entrei no quarto, peguei um tamborete
e me sentei na frente dela.
Ela engoliu aquele chorinho sentido e falou:
“Tii, cê chica qui cumigo?”
E eu só respondi: “O Tii, chica.”
Ela se deitou e se acomodou no travesseiro.
Estendi minha mão direita através das grades do berço,
e ela segurou firme o meu dedo indicador.
E dormiu serena, imediatamente.
Hoje, 8 de agosto de 2025 —
mais de 30 anos depois dessa história —
daqui a pouco pego a estrada até Lagoa Santa, MG,
onde irei registrar, em fotos,
a cerimônia religiosa do casamento
da Sra. Gabriela e do Sr. Otávio.
Gabriela,
ora bravo e constantemente chato,
ora debochado e eventualmente carinhoso,
o Tii sempre esteve ao seu lado.
Espero não lhes decepcionar como fotógrafo improvisado.
O Tii te ama.